sexta-feira, 23 de abril de 2010

Não sei quantas almas tenho (Fernando Pessoa)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,


Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Não precisa dizer nada...


Não precisa dizer nada...
Nem sobre as roupas caídas,
Nem sobre as cartas rasgadas.
Melhor é o silêncio.
Deixe que o tempo desate os nós.
Não precisa dizer nada...
Não há o que explicar.
Nem os ressentimentos,
Nem o choro.
Deixe que o vazio fale.
Deixe a mobília do lado de fora.
Permita que enxerguemos um ao outro.
Não há nada em mim e nem em você.
Só lágrimas que tingem os olhos...
Só o perdão que apaga as culpas...

(Deiga Luane)



terça-feira, 13 de abril de 2010

Enamoramento

A intermitência da vida dialoga com a infinitude da arte.
Metamorfoses melódicas,
Traços e cores.
Imagens se envolvem na poética do prisma.
O ser se reinventa em um emaranhado de simbolismos.
Olhares que fitam o abstrato interior.
E enxergam o seu lado reverso.

(Deiga Luane)

P.S.: Imagem retirada do blog Partículas do Sentido. Lindo trabalho!

sábado, 10 de abril de 2010

Em um de nós

Em um nós existe amor
Em nossas faces, enigmas.
Olhares que se vêem
Mãos que se encontram
Em um de nós existe saudade
Em nossas faces, mentiras.
Metade de mim tem certeza
Metade de mim tem dúvidas
Tenho medo de estar só
Tenho medo do que meus olhos falam.

(Deiga Luane)

Um Segundo

Por quase um segundo eu te amo
Queria te amar pra vida inteira
Levar-te pra longe
Entregar-te meu presente
E em seus olhos ver o horizonte
Perco tempo procurando em livros
O que só encontro em ti
Queria tua vida estudar
Pra aprender o que te agrada
Escrevo frases incertas
Queria te fazer poesias
Que te façam sorrir
Que me façam feliz
Bem mais que um segundo

(Deiga Luane)



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poente



Ao longe se vê o pôr-do-sol.
Um tom laranja recobre o céu.
Tudo escurece, mais um dia finda.
Os carros, a vida noturna, os edifícios;

Reluzem sobre a escuridão.
Não há sono, não há silêncio.
Observo o poente.
Como em um beijo de despedida,
O sol se esconde
Para simplesmente iluminar a Lua,
Em um sorriso minguante.

(Deiga Luane)